Este ano, cerca de cinco milhões de candidatos estão inscritos para participar de mais uma edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Dependendo do desempenho, a nota pode significar a porta de entrada para diversas universidades públicas e privadas, ou ainda garantir uma bolsa de estudos.
O que nem todos sabem é que existe um ‘Enem americano’. O SAT (Scholastic Assessment Test) é um teste padronizado aplicado aos estudantes dos Estados Unidos durante a transição para o ensino superior. Seu objetivo é avaliar os conhecimentos e habilidades de raciocínio crítico adquiridos ao longo da trajetória acadêmica, além de servir como critério para o acesso a instituições de ensino superior americanas e canadenses.
Diferenças entre a prova brasileira e americana
Enem – O exame avalia os concluintes do Ensino Médio em quatro áreas do conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e Matemática e suas Tecnologias.
A maratona é dividida em dois domingos, com provas presenciais em formato impresso, totalizando 180 questões objetivas e uma redação que exige o desenvolvimento de um texto dissertativo-argumentativo a partir de uma situação-problema. Organizado por um órgão público brasileiro, o Enem é requisito obrigatório para participar de programas educacionais como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
SAT – A prova dos Estados Unidos é bem diferente. O teste avalia apenas duas áreas do conhecimento: Inglês (Language) e Matemática (Math). É mais curta, com duração de pouco mais de duas horas, e é realizada em datas programadas, até seis vezes por ano, em locais de prova presenciais, mas feita em dispositivos eletrônicos.
Organizado por uma associação sem fins lucrativos, o SAT não é obrigatório nos Estados Unidos, mas a apresentação da nota pode aumentar as chances de obter uma vaga em universidades, inclusive com bolsas de estudos. O SAT não inclui redação, uma vez que as faculdades exigem redações (chamados de essays) como parte do processo seletivo, além de outros critérios, como cartas de recomendação. Uma curiosidade é que, ao contrário do Enem, o SAT permite o uso de calculadora durante a prova.
“Antigamente, o SAT incluía uma parte de redação e um teste complementar que avaliava áreas relacionadas às carreiras que os alunos pretendiam seguir, como Ciências. No entanto, após a pandemia de Covid-19, o teste foi reformulado e simplificado”, afirma a educadora Ana Claudia Gomes, do colégio bilíngue Brazilian International School (BIS), em São Paulo.
A seguir, confira mais detalhes e curiosidades sobre o SAT americano:
Estrutura da prova: O teste é dividido em duas seções: “Inglês” (Language) e “Matemática” (Math). Em Inglês, o candidato tem 64 minutos para responder a dois módulos com um total de 54 questões, avaliando suas capacidades de compreensão de textos, vocabulário, análise crítica e revisão. Já em Matemática, o estudante tem 70 minutos para responder a dois módulos com 44 questões, sendo avaliado em Álgebra, Geometria e Trigonometria, Matemática Avançada, resolução de problemas e análise de dados. Ao todo, a prova dura duas horas e 14 minutos, totalizando 98 questões.
“Grande parte das respostas é de múltipla escolha, mas algumas questões de matemática exigem respostas abertas. O primeiro módulo de cada seção apresenta uma combinação de perguntas de diferentes níveis de dificuldade. Dependendo das respostas do candidato, o segundo módulo pode ser mais ou menos difícil”, explica Ana Claudia.
Nota da prova: Cada seção do SAT é avaliada em uma escala de 200 a 800 pontos, resultando em uma pontuação final que varia de 400 a 1.600 pontos. A pontuação média é de 1.050, e aqueles que alcançam 1.350 pontos estão entre os 10% melhores, aumentando as chances de aprovação nas universidades mais prestigiadas.
SAT não é o único critério de admissão em universidades: O SAT não é o único critério de admissão. A maioria das faculdades exige também redações, projetos, portfólios e entrevistas com os candidatos, seguindo a dinâmica retratada em filmes americanos, onde os alunos precisam “impressionar” as comissões de seleção.
“Em Matemática, o currículo brasileiro oferece conteúdos mais abrangentes do que os exigidos na prova americana. Já em Inglês, o foco está na literatura e no vocabulário, pois os adolescentes precisam desenvolver paciência e concentração para a leitura de textos longos, semelhantes aos do Enem”, complementa a docente do BIS.
Alunos de Alphaville vão bem no exame americano
Segundo estudantes brasileiros que realizaram o SAT, assim como o Enem, o grande segredo é a preparação. Provas e processos desse tipo costumam ser como uma maratona: os atletas que se preparam há mais tempo têm mais chances de chegar nas melhores colocações no pódio.
Na Escola Internacional de Alphaville, em Barueri, os alunos são incentivados a prepararem-se para o SAT. O ex-aluno Guilherme Biem cravou 1490 de um total possível de 1600 pontos na prova, nota que o ajudou a entrar na University of Michigan com double major (modalidade de graduação em que o estudante cursa duas áreas de estudo ao mesmo tempo e recebe dois diplomas) em Ciência da Computação e Matemática Financeira. Ainda antes de terminar a graduação, o jovem aplicou e foi aprovado no Mestrado em Estatística da University of Chicago, onde deve se formar em dezembro próximo.
O irmão de Guilherme, Gustavo Bien, que também foi aluno da Escola Internacional de Alphaville, marcou 1250 pontos no SAT, e usou a nota para ser admitido no curso de Business na Michigan State University. Ao final do segundo ano da graduação, inscreveu-se para uma especialização em Finanças para Real State (profissional que atua no mercado imobiliário).
Lucas Fonseca, outro ex-aluno da Escola Internacional de Alphaville, marcou 1350 pontos no SAT. Ele conta que uma grande diferença entre o Enem e os vestibulares brasileiros e o teste americano está nos conteúdos exigidos. O Enem cobra praticamente todo o conhecimento adquirido durante a vida escolar, enquanto que o SAT já tem os conteúdos exigidos pré-determinados, em inglês e matemática.
“Gabaritei a parte de Matemática, que eram conteúdos de álgebra básica, geometria e resolução de problemas, o que me garantiu uma boa pontuação. Além de se preparar e praticar o conteúdo cobrado no SAT, eu aconselho quem vai prestar o teste a otimizar bem o tempo, pois a prova é mais prática, uma corrida contra o relógio. A maior dificuldade dos candidatos é o pouco tempo para resolver as questões”, diz o jovem, que se formou em Administração na University of Southern California.